25 de Abril

Foi mais uma vez muito bom participar numa sessão comemorativa do 25 de Abril. Tem sido recorrente por esta altura o meu envolvimento em iniciativas destinadas a festejar a Revolução dos Cravos. Desta vez voltou a acontecer na minha escola, onde colaborei com o Diretor da Biblioteca Escolar, o meu colega e amigo Sérgio Morais, na organização da sessão evocativa desta data fundamental da nossa história. Esta celebração de Abril deu-me também a oportunidade de voltar a trazer à Escola Secundária Carlos Amarante a fabulosa exposição fotográfica de José Delgado”25 Imagens de Abril”, que documenta a manifestação realizada em Braga no dia 26 de abril de 1974,tendo como ponto de partida o Liceu Nacional Sá de Miranda.

Falando agora da sessão realizada no auditório na manhã de 24 de Abril, penso que, independentemente do já habitual desinteresse e mau comportamento revelado por alguns dos alunos, foram atingidos todos os objetivos pretendidos, nomeadamente o de lhes sinalizar a importância de não deixar cair no esquecimento uma data importantíssima para a evolução do nosso país, lembrando-lhes como era o regime do qual nos libertámos e reiterando a ideia de que, por muito má que seja a situação que vivemos atualmente, vivemo-la em liberdade e temos o direito de nos manifestarmos e criticar publicamente aqueles que nos desgovernam e constantemente desvirtuam o espírito de Abril na sua ação política.

Tivemos dois excelentes convidados: o coronel Rui Guimarães e o Dr. Jorge Cruz. O coronel Rui Guimarães fez uma descrição muito completa das operações militares do 25 de Abril, designadamente as que tiveram a ver com a ocupação do quartel do Regimento de Infantaria 8,em Braga, fazendo também uma descrição muito pormenorizada da situação política e social que se vivia no nosso país e que o programa do MFA propunha alterar radicalmente, no sentido de se avançar para uma sociedade justa, livre e democrática. Finalmente, o nosso convidado não esqueceu a apreensão que sente perante as políticas atuais que, segundo ele, colocam em causa os princípios pelos quais os militares se bateram no 25 de Abril. O Dr. Jorge Cruz falou sobre a sua experiência de jornalista antes e depois de Abril, da censura, do lápis azul, da criatividade dos jornalistas na utilização de uma linguagem metafórica com o objetivo de iludirem a ação repressiva dos censores, da forma como alguns destes jornalistas tiveram, depois de Abril, dificuldades em escrever em liberdade; das novas pressões que asfixiam os jornalistas nos dias de hoje.

Antes dos nossos dois convidados, eu próprio tive oportunidade de partilhar a minha experiência de estudante finalista do Liceu Nacional Sá de Miranda, com dezassete anos e atividade política desde os quinze, integrado num grupo de ativistas estudantis, que organizava reuniões semiclandestinas, distribuía panfletos no liceu, em fábricas e noutros pontos da cidade, dedicando-se a ações de agitação política que chegaram a preocupar os poderes estabelecidos na nossa cidade. Concluí a minha intervenção com a leitura de um texto que documenta o meu testemunho pessoal da manifestação de 26 de Abril de 1974,retratada na exposição “25 imagens de Abril”, de José Delgado.

Houve ainda dois poemas de Manuel Alegre, lidos pela Sofia e pelo Rui, do 10º K, as questões colocadas pelo público, poucas e só de professores,e,uma surpresa final preparada pelo professor Sérgio Morais que pôs toda a gente a cantar “Grândola Vila Morena” abraçado ao parceiro do lado, sendo posta em prática, por alguns minutos, a fraternidade de que fala a canção do grande Zeca Afonso.

 

José Coimbra Barbosa

Braga,27 de Abril 2013